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Façamos um compromisso: deixemos de condenar os jantares de Natal — aqueles que vêm antes do dito — ao purgatório dos eventos sociais que ora desejamos, ora condenamos. Abracemo-los como merecem. São encontros à mesa que podem ser vencedores e uma das formas de garantir a vitória destas noites é assegurar que são concretizados nos sítios certos. Estas são cinco sugestões com esse objetivo no menu, noutras tantas cidades do país.
Ainda antes da comida chegar à mesa, este restaurante já está a ganhar. Aliás, antes de nos sentarmos já estamos a caminho de ficar convencidos. O Suzana tem um balcão — e um balcão nunca é apenas um detalhe, é um traço de personalidade, um tique de boa linguagem, um sinal de boa nascença. Depois, é possível ver a cozinha a funcionar. Para uns, parece apenas uma moda. Para outros, é mais uma forma de estar em casa em morada alheia. E um terceiro detalhe: o restaurante tem nome de gente. Reforcemos: é uma só palavra e todos temos alguém conhecido que foi batizado com a dita. Já na mesa, a satisfação de sabermos que estamos perante um familiar do Cacué, sala lisboeta que nem fica longe dali e muito menos deixa dúvidas sobre a cozinha, muito próxima daquela que vemos no menu neste Suzana. Tratam-se das portuguesices dos nossos sonhos.: sopa de sapateira e croquetes, língua de vaca e codorniz de escabeche, açorda de gambas e pastéis de bacalhau. Caramba, há arroz doce e tarte basca. É uma festa!
Rua de São Sebastião da Pedreira, 167, 1050-227, Lisboa; Almoço de segunda a sexta das 12h às 15h; Jantar de terça a sábado das 19h às 22h. Telef: 218 257 661
Mais do que um conceito, o Ao Largo tem um lema: “comida e amigos”. A experiência que o restaurante propõe, ao abrir as portas, é que cada visitante retire as aspas ao mote e o transforme em modelo existencial, nem que seja durante uma refeição. Um aviso ao início: não é no Ao Largo que vai marcar o jantar de Natal da empresa onde trabalha. Primeiro, porque a reserva para grupos está limitada a um máximo de 10 pessoas. Segundo, porque a motivação de quem faz o restaurante funcionar é que a conversa sirva a comida, a comida motive a conversa e as duas coisas se transformem numa só. Além de ser uma imagem romântica, é uma demanda concretizável. O menu mostra como e porquê. Nos petiscos: biqueirões em vinagre com azeitona verde, folhado de chèvre com doce de figo e noz, morcela de arroz no forno com chutney de maçã. Nos pratos: atum em crosta de sésamo, Naco “Ao Largo” ou o magret de Pato. E uma “lambarice” (palavra dos próprios) chamada mousse de chocolate — com caramelo salgado e flor de sal.
Rua Dr. Correia Mateus, 36, 2400-127, Leiria; das 12h às 23h; fecha ao jantar de domingo e à segunda-feira. Telef: 244 205 521
A descrição no site oficial é suficiente para nos fazer perguntar “mas por que raio é que nunca fui a este sítio?”. Ora atentem: “José Canelas e Maria da Soledade são os anfitriões do restaurante Senhor Zé. Um casal ligado desde sempre à restauração e casados há 44 anos!”. O ponto de exclamação não é nosso, é deles, o que torna tudo isto ainda mais emocional. E já que falamos em emoções, tomai destas: pataniscas de bacalhau e rissóis daqueles que depois queremos descrever aos amigos, enquanto fechamos os olhos para voltarmos às trincas; bacalhau bem tratado ou uns filetes de peixe galo que vão ficar no topo das preferências durante muito tempo; e um final aprimorado, com outras iguarias da família de um leite creme que nos faz lembrar que a simplicidade tem muitas variáveis e pode ser tão banal como primorosa. Neste caso, a última hipótese é a certa. Resumindo: o sítio perfeito para que o grupo em causa (que é o mesmo que dizer “à mesa”) encha a barriga de felicidade.
Rua Campinho, 13-15, 4000-151, Porto; De terça a sábado, das 12h às 15h e das 19h às 22h30; Domingos das 12h às 15h. Telef: 222 051 011
Há expressões que são fartas vezes mal empregues. Uma delas é “cinco estrelas”. A ideia é tão aspiracional que, em menos de nada, estamos a dizer que uma pessoa, uma série ou uma capa de telemóvel é “cinco estrelas”. A banalidade tem destas coisas e por vezes faz-nos esquecer que há estrelas que são de facto entregues em conjuntos de cinco porque são atribuídas a circunstâncias que merecem pontuação máxima, derivado do máximo contentamento que concedem a quem por elas passa. O Emme inscreve-se nesta categoria: porque é o restaurante de um hotel com — isso mesmo — cinco estrelas; mas também porque quem o visita transforma-se em ser gastronómico absoluto. Experimente: faça uma reserva de grupo e antecipe o Natal familiar com uma consoada da amizade (por ser entre amigos, não requer que seja operacionalizada na data certa, porque o Natal acontece quando os amigos quiserem). O responsável pela cozinha é o chef Alexandre Silva (Loco e Fogo são outras marcas de encanto culinário assinadas com uma palavra só por este artífice das cozinhas). A cozinha é atlântica, garante o próprio. E 85% dos produtos vem daquela costa, entre a Ericeira e Peniche. Honestamente: ainda aqui estamos?
Rua Bica da Figueira, 2640-065, Santo Isidoro; todos os dias, das 12h30 às 22h30; Telef: 938 226 270
Isto é gente que gosta de trabalhar, virtude que costuma traduzir-se em óptimo serviço. Saiba que até às 14h, o Austa serve pequeno-almoço e almoço, o que diz bem de quem por aqui vão poder encontrar: rapaziada compreensiva, que empatiza com a volatilidade dos horários, com os modos de vida menos rígidos. E é prova de simpatia, que continua se chegar cedo ao jantar — aliás, se decidir fazer do jardim e da esplanada o cenário da sua tarde. Beba um copo, não se acanhe. E depois, reúna o seu grupo e partilhe. Tártaro de vaca maturada, choco com rábano e coentros ou atum patudo. Lembre-se: está no Algarve, o mundo gastronómico é quase infinito e o mar é uma vantagem absoluta. E tudo isto aconteceu porque Emma e David Campus por aqui se instalaram, depois de desistirem de tudo o que lhes consumia os dias e não lhes apresentava retorno — e não é de finanças que aqui falamos. Se desta vontade de mudança para melhor nasceu um restaurante, não lhe parece que é uma mesa a visitar?
Rua Cristóvão Pires Norte, 8135-117, Almancil; de quinta a sábado, das 09h30 às 17h e das 19h às 21h30; Telef: 965 896 278