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Nesta rua movimentada da cidade cabem cafés, uma esquadra, uma escola, uma retrosaria e o jardim da Alameda: “Na criação deste projecto agarrei-me muito a essa sensação de quando entrava na Alameda. A calma, a liberdade, a curiosidade e o aproveitar o momento”, conta o chef Rui Sequeira, enquanto percorre o seu restaurante. A entrada faz-se pela esplanada, uma espécie de jardim interior, que recentemente aumentou a capacidade do restaurante. Lá dentro, a sala é pequena e intimista, repleta de plantas, tons claros e a meia-luz, criando um ambiente acolhedor. Da cozinha aberta é possível acompanhar ao detalhe todo o serviço. O compasso é marcado pelo chef, orientando uma equipa de cinco pessoas na cozinha e três na sala. O espaço e o momento são partilhados por todos.
Farense de nascimento, o chef Rui Sequeira sempre sonhou abrir um restaurante na sua cidade, mas precisou de ir para fora para crescer profissionalmente. Estudou em Lisboa, experimentou o mundo da cozinha francesa e, quando regressou a Portugal, procurou opções de estágio no Algarve: “Na altura interessava-me muito o trabalho do chef Hans Neuner, um chef austríaco que estava a elevar os produtos algarvios, com pratos de grande qualidade no restaurante Ocean. Estive lá oito anos, nos dois últimos como sous-chef”.
A ascensão foi rápida e, aos 25 anos, apareceu a oportunidade de abrir o seu próprio restaurante, em Faro. A sua mulher, Cristina Monteiro, trouxe-lhe a confiança, o apoio e a energia que precisava para dar o passo, continuando hoje a ser a sua maior parceira. Depois de um período experimental, em sua casa, em modo supper club, nasce, em 2018, o Alameda.
O conceito era simples: dar a conhecer a gastronomia algarvia através de uma experiência que conjuga os melhores produtos da região com a sua história. Em seis anos, foram-se afinando detalhes sem nunca perder a sua génese: “Na nossa cozinha só trabalhamos com ingredientes algarvios e de qualidade. Mais do que uma refeição, oferecemos uma experiência que enaltece as nossas origens através da comida”.
Quando o cliente se senta no Alameda, começa uma viagem do passado ao presente. Apesar de pouco reconhecida, a gastronomia algarvia é simples, mas muito rica. Com influência romana, islâmica e cristã, tem uma forte ligação ao mar e à serra: “O nosso objectivo principal é criar uma cultura gastronómica algarvia e começamos por fazê-lo no nosso restaurante, com uma escolha detalhada de ingredientes, trabalhados através de temas. Neste momento o nosso menu é inspirado em lendas do Algarve: histórias religiosas, histórias de amor, que fazem parte do que somos como povo e desvendam as nossas raízes”.
No último ano, o Alameda deixou de servir pratos de carne, utilizando apenas alguns derivados. O menu foca-se essencialmente em peixe, o ingrediente que o chef Rui Sequeira acredita ser um dos mais ricos e representativos da região: “É a melhor matéria-prima que podemos ter. Tenho licença de lota e, duas vezes por semana, vou ao leilão do Mercado de Olhão. São peixes de pesca artesanal com grande qualidade e exclusivos, que não chegam a entrar no circuito comercial.”
“O Amor além do tempo: uma viagem pelas lendas algarvias” é um menu de degustação com nove momentos (115€, sem harmonização). Este foi desenhado para contar a história da região através das suas lendas. Histórias que viajam por diferentes tempos e lugares do sul do país. A lenda da Floripes ou a da Moura encantada são odes à região, às suas tradições e cultura, mas como é que isso se materializa num prato? “Primeiro pensamos no tema, escolhemos as lendas e como já sabemos os peixes que temos disponíveis em cada estação, tentamos encaixar o melhor produto, enquanto visualizamos um empratamento que também conte a história”.
Com origem em Olhão, a lenda de Floripes conta a história de uma mulher vestida de branco, espera eternamente pelo seu salvamento junto ao cais. Esta figura feminina simboliza esperança, amor e revela a relação deste povo com o mar. Para contar esta história, o chef Rui Sequeira pensou na raia alhada, um prato típico olhanense, dando-lhe uma abordagem moderna e delicada, que visualmente remete para uma onda do mar.
Seis anos depois da sua abertura, o Alameda é um projecto consolidado e com objetivos bem definidos: “Sinto que estamos no momento certo para dar um salto. O meu maior sonho era receber um reconhecimento que colocasse o nosso restaurante, Faro e a gastronomia algarvia cada vez mais no mapa. É preciso abrir portas a uma cultura e um turismo que ainda não existe aqui”.
Independente de qualquer ambição, a visão está clara: o que o chef Rui Sequeira faz na cozinha do Alameda é algo maior que o seu talento e da sua equipa ou até da própria comida - é um acto de amor para com a sua terra e gentes. As nossas raízes são alimentadas por memórias, que decidimos abraçar ou deixar cair. Quando reforçadas são capazes de nos moldar, encaminhar ou até mesmo definir. As recordações são feitas de cheiros e sabores, que vão e vêm, como uma visita inesperada. E a comida está sempre lá, a agarrar as pontas, a aconchegar a lembrança e a falar-nos de amor. Isto não é uma novidade, mas é bom ir ao Alameda recordar-nos disso.
Alameda. Rua da Polícia da Segurança Pública, 10. Faro. Telefone: 289 824 831