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Ainda há quem entre no novo Magano e pergunte: “Vocês fizeram obras?”. Mas não é só a decoração que está diferente ou o espaço que está o dobro. É mesmo o restaurante que mudou de sítio há cinco meses — para a porta ao lado. Não faz muita diferença aos clientes habituais, a maioria nem dá conta de que já não entra no 52 da Tomás da Anunciação, em Campo de Ourique, Lisboa. Até porque lá dentro está a cozinha alentejana servida num ambiente sóbrio que conhecem há 22 anos.
“Não sou alentejano, mas não conte a ninguém”, brinca Marco Luís, um dos sócios do restaurante, juntamente com o irmão, Bruno. Contamos o que nunca foi segredo: são beirões de Pampilhosa da Serra e foram levados a apaixonar-se pela cozinha alentejana pelo anterior patrão, Jorge Morais. “Ele ia às matanças no Alentejo, fazia muitas romarias para comer e nós às vezes também íamos”, conta Marco.
Abriram o restaurante os três, em 2002, e passados uns meses ficaram os irmãos a dar continuidade ao assunto. Para a cozinha contrataram uma alentejana de gema, antiga professora que não se adaptou aos horários desta profissão e, após um ano, estavam os irmãos da Beira a ter de doutorar-se autodidaticamente em pratos alentejanos. “Foi estudar, visitar, aprender muito com os clientes. Diziam, ‘olhe que comi assim no sítio tal’. Nós íamos lá e provávamos”.
Desde o início, servem os clássicos potentes — as plumas de porco preto, os pezinhos de coentrada, entrecosto frito com migas e toda a sorte de sobremesas de ovos — mas também vão à mesa os exemplos de que esta cozinha regional pode ser leve e delicada, apropriada a tardes de trabalho no escritório — a sopa de cação, a sopa de tomate, os filetes de peixe imprescindíveis no Alentejo litoral.
Ao longo de 20 anos, foram aprendendo as minudências da sazonalidade na gastronomia alentejana, apesar de fazerem muitos pratos fora de época: limpar melhor o borrego na época em que é mais gordo, como corrigir o tomate que não está na sua melhor estação, ou como equilibrar o “conjunto perigoso” do sal, oregãos e coentros.
Assim, e com a longevidade da equipa na casa, como Mário, que chefia esta cozinha há mais de 10 anos, o Magano tem hoje uma coleção de receitas próprias, mais do que testadas e aprimoradas com a ajuda de quem ficou agarrado a esta casa.
“90 por cento das pessoas que nos visitam, reservam, são pessoas que nos conhecem bem. Estão a vir do Porto para terem reuniões e estão a ligar para pedir uma mesa. [Do Brasil] Recife inteiro vem aqui, por causa de dois clientes que disseram aos amigos todos que tinham de vir. Temos um grupo de WhatsApp com 40 pessoas [de Recife] e quando vem alguém aqui, partilhamos uma foto para fazer inveja. É um trabalho de 20 anos”, conta Marco Luís. “Com toda a franqueza, não temos de ter muita etiqueta, temos de tratar bem as pessoas, como se as recebessemos em casa: abrimos a porta, servimos os melhores produtos. A única diferença é que no final pagam”, resume.
Marco diz que conquistou os clientes pela simplicidade, mas admite que foi preciso posicionar-se como um restaurante sofisticado para ganhar uma certa credibilidade. Depois dos primeiros anos, decidiu que tinha de tornar o Magano “mais urbano”. Nas paredes estão trabalhos em latão despretensiosos com as silhuetas de monumentos de algumas vilas e cidades alentejanas, a luz é baixa e talvez se possa considerar a garrafeira com referências nacionais como a única decoração de maior. O chão de tijoleira e as loiças e alfaias alentejanas que decoravam as paredes no ano da abertura já foram dispensadas há muito. “Se puser no Chat GPT restaurante alentejano’ é isso que aparece — a casinha da avó, cheia de bibelôs. Queremos posicionar-nos como um sítio requintado”.
Ao almoço, os clientes procuram a privacidade do Magano para tratar de negócios e ter opções como um chuletón de black angus ou um bife de atum grelhado é uma das condições para atingir essa percepção de sofisticação e para “estar numa cidade como Lisboa”. No entanto, o empratamento dos clássicos continua a ser rústico, nos pratos de barro, nas assadeiras. É a condição para que, a mesa mais cara, recorde sempre que a cozinha alentejana é popular.
O Magano. Rua Tomás da Anunciação, 54A, Lisboa. Segunda a Sábado, 12.15-15.30 e 19.15-22.30. Telefone: 21 395 4522