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Foi durante a pandemia que Louise Bourrat começou a vender sanduíches à janela do Boubou’s, o seu restaurante de fine dining no Príncipe Real. “Estávamos perto de perder tudo e não tínhamos dinheiro, era preciso pagar salários”, recorda a luso-francesa de 30 anos. “Foi um período complicado e infelizmente não houve nenhuma ajuda do Estado para os restaurantes.”
Na altura, quando não podiam abrir portas, Louise pegou em “tudo o que tinha no congelador” e começou a fazer sandes para take-away, à janela. O dinheiro que conseguiram não foi muito: “50, 60, 70 euros por dia”, recorda a chef. Ainda assim,o suficiente para sobreviverem até poderem voltar a receber clientes no Boubou’s, o que só aconteceu um mês depois. “Desde aí, ficou sempre essa ligação emocional ao projecto”, diz.
De tal maneira que, em 2023, quando fechou o Sujamãos, um negócio de sandes de cachaço na mesma rua do Boubou’s, Louise decidiu ficar com o espaço e abrir uma loja só de sanduíches, o Sandwich Club. “Já estava tudo prontinho, já tínhamos as receitas prontas e já havia a tal ligação emocional”, explica.
A ideia foi trazer para Lisboa sandes diferentes a partir de receitas internacionais, uma alternativa aos habituais “pregos, às bifanas e aos smash burgers”, continua a chef. “Com muita criatividade, muita técnica e bons produtos.”
Desde a abertura, em Abril de 2023, o menu tem mudado regularmente, mas já há favoritos. É o caso do Octodog (15 euros), um cachorro feito com um tentáculo de polvo, maionese de harissa e molho espanhol, que regressou à carta em Janeiro, depois de alguns ajustes. O K.F.C. (11 euros), com frango frito, kimchi e molho coreano, tem sido o bestseller da casa, não só no Príncipe Real, muito frequentado por turistas e expats, como também no centro-comercial Amoreiras, onde o segundo Sandwich Club abriu em Setembro do ano passado, com uma clientela mais portuguesa.
As sanduíches são todas pensadas por Louise e pelo brasileiro Mateus Martins, que era head chef do restaurante Salta, também em Lisboa, até ser desafiado para se juntar ao Club, há quase dois anos. “No começo, foi bem difícil para o ego sair do fine dining para ir fazer sanduíches”, confessa Mateus. “Mas depois entendi que é um mundo mais aberto para tentar mil coisas novas, sem essa pressão absurda.”
O Báhn Mi (11 euros), a grande novidade da carta deste ano, com barriga de porco crocante, traz-lhe boas recordações. “Morei um tempo na Austrália e o Báhn Mi era o meu café da manhã na tendinha vietnamita ao lado de casa”, conta o chef brasileiro que criou a sua própria versão da sandes vietnamita. “Quando mudámos o menu, quis colocá-la.”
As sandes têm todas opções vegetarianas, com tofu (em vez da costeleta de porco frita na Katsu Sandu, a 10 euros) ou cogumelos (no caso do Báhn Mi), seguindo a filosofia do Boubou’s. “No restaurante tenho um foco muito grande na sustentabilidade e no mundo vegetal e precisamos dessas opções aqui”, diz Louise. “O meu sonho era que as pessoas, mesmo sem serem vegetarianas, tivessem mais curiosidade com essas sandes. Pouco a pouco vamos lá.”
Antes de chegar ao Príncipe Real, em 2018, para “dar uma ajuda” ao irmão no Boubou’s, Louise passou por cozinhas em França, em Londres e pela América Latina, por onde viajou e trabalhou durante dois anos. A mãe é portuguesa, mas Louise nasceu em Lyon e em casa não se falava a língua. No entanto, a influência da gastronomia de Portugal sempre esteve lá, sobretudo através da avó, de Ponte de Lima. “Cozinhar é central nas duas culturas e comecei aos 4 anos. Foi a minha paixão, já estava escrito.”
O que, inicialmente, era apenas uma mãozinha na cozinha do restaurante do irmão e da cunhada tornou-se um trabalho a full-time, sobretudo depois da pandemia, quando houve tempo para “parar e pensar” e reajustar o menu a uma cozinha mais elaborada.
Em 2022, aconteceu o “gigante tsunami” no restaurante, como lhe chama Louise, que entretanto se inscrevera na versão francesa do concurso Top Chef, de “grande reputação”. Quando anunciaram o seu nome como a grande vencedora, as reservas não pararam de chegar a Lisboa. “O restaurante estava cheio com três meses de antecedência, era muito difícil conseguir reserva”, recorda. “Todos os dias havia 40 pessoas na lista de espera, de França, da Suíça, do Canadá…”
A “loucura”, como lhe chama, só abrandou o ano passado. “É incrível como em 2020 estivemos perto de perder tudo e depois houve este tsunami. A vida está bem feita.”
Apesar de não ter tanta experiência com “chefs reconhecidos” como outros concorrentes do concurso, acabou por conseguir ganhar. Talvez graças à sua “cultura diferente”, arrisca. “Tenho essa abertura ao mundo fora da gastronomia francesa, com a qual não me identifico muito”, confessa.
É essa abertura que quer vincar nos seus projectos, não só o Boubou’s e no Sandwich Club, como também o Gancho, um pequeno restaurante em Alfama que planeia abrir no início de Março com o namorado, Marco, natural da Sardenha.
“Vai ser uma mistura entre a tasca, a osteria italiana e o bistrô francês”, adianta. Os pratos também reflectem essa combinação, com twists como o porco preto tonnato ou o tártaro à Brás. “Precisava de um lugar para fazer uma comida de coração, sem as exigências de performance do fine dining, onde há muita pressão, muitos parâmetros”, conta. “Amo fazer isso, mas também amo fazer comida de tacho, que não tem de ser perfeita, tem de ser deliciosa.”
O Sandwich Club, um lugar de passagem, não cumpria totalmente esse propósito. “É diferente porque é uma loja e queria um espaço onde as pessoas pudessem realmente passar tempo.”
Sandwich Club. Rua do Monte Olivete, 71, Príncipe Real, Lisboa. Terça a sábado, 12.00-22.00. Amoreiras Shopping Center, Piso 1, Lisboa. Segunda a domingo, 12.00-22.00.