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Restaurantes em Lisboa para celebrar o Ano Novo Chinês

Restaurantes em Lisboa para celebrar o Ano Novo Chinês

A festa da Serpente à mesa: cinco restaurantes para comemorar o Ano Novo Chinês

8 min de leitura

28/01/2025

Texto: João da Ponte

Fotografia: Ágata Xavier

A 29 de janeiro começa o Ano Chinês da Serpente. É tempo de celebração, coisa que nasceu para ser feita à mesa. Deixamos-lhe cinco sugestões.

Diz o Instituto Nacional de Estatística que é em Lisboa que se encontra a maior comunidade chinesa em Portugal — mais de 40%. Contas feitas, é na capital que estão os melhores restaurantes para festejar. Deixamos-lhe cinco sugestões, tão boas na comida como distintas em tudo o resto.

Mi Dai: nada para ver, tudo para comer

As maravilhas que a boa comida opera são coisas quase divinas e os caminhos que a dita escolhe são insondáveis. Toda esta conversa mística serve para introduzir o tema Mi Dai, um restaurante que cabe, à primeira vista, na categoria “não dava nada por isto”. Porque ao entrar no espaço mesmo ao lado do Martim Moniz, a arrebitar caminho para quem vai ao cimo da Mouraria, perguntamo-nos “que marquise é esta e porque é que estou aqui?”. Vemos o menu e continuamos a duvidar, porque a curta oferta é feita de massa, arroz e sopa, de vaca, porco, camarão e vegetais. Acresce uns pequenos crepes e umas guiozas e a carta está feita. Mas fica a recomendação: vão em grupo, escolham um de cada (doses generosas, sobretudo a sopa, que parece querer abraçar-nos) e sintam-se mais do que satisfeitos. É tudo bom, é tudo bem feito, e as mesas estarão certamente quase todas ocupadas por bem falantes de mandarim, a atestar que aquele é, de facto, o sítio certo. Só faltava um bolinho da sorte com um papelinho a dizer “as aparências iludem” (e multibanco, vá, que não tem).

Sem nome à entrada, o Mi Dai é a cantina de excelência da comunidade chinesa — e não só.
Sem nome à entrada, o Mi Dai é a cantina de excelência da comunidade chinesa — e não só.

Mi Dai. Calçada da Mouraria, 7, Lisboa. De segunda a sábado, das 10h às 21h; aos domingos das 11h30 às 15h.Telefone: 968 784 699

The Old House: a casa onde moram os sonhos de Sichuan

Ora aqui está uma proposta quase-totalmente oposta à anteriormente apresentada nesta lista feita de felicidade. E é “quase” porque há uma semelhança: a qualidade da refeição, que depois vai motivar aquele discurso — orgulhoso e sabido — que nos leva a dizer “não me digas que nunca foste ao The Old House”, no Parque das Nações. Tirando este pequeno enorme detalhe, as diferenças são óbvias: é mais caro, o serviço é mais chique a valer, a ementa é vasta e, claro está, o preço também sobe de acordo com a progressão dos anteriores elementos e seguindo os princípios do “ma la”, elemento presente na cozinha da região de Sichuan, que aqui é patroa máxima. Trata-se de um namoro entre malaguetas e pimentas que habita o receituário apresentado e faz do The Old House uma magnífica e ardente experiência gastronómica. O Mao Cai é um caldo quente que faz apaixonados, há uma entremeada recozinhada que é um sonho e há muita habilidade no tratamento do pato, um sacaninha que aqui parece venerado. Ide e gozai a vida, é assim que se faz.

O The Old House tem dois pisos, um inferior, mais aberto, e um superior com pequenos compartimentos.
O The Old House tem dois pisos, um inferior, mais aberto, e um superior com pequenos compartimentos.

The Old House. Rua da Pimenta, 9, Lisboa. Todos os dias, das 12h às 14h30 e das 19h às 22h30. Telefone: 218 969 075

Kuwazi: um mundo encantado no shopping

Em tempos foi um restaurante clandestino, daqueles que não cumprem as regras nem têm as licenças devidas, mas que toda a gente sabe onde ficam e toda essa mesma gente aprecia demasiado os menus em questão para estar preocupada com esses detalhes. Agora o Kuwazi tem morada no centro comercial Columbia, junto ao Apolo 70. Tudo pérolas, tudo certo. Não tem janelas, portanto a concentração está toda na comida que nos é servida. Ou na companhia. Mas como a companhia podia estar connosco noutro sítio qualquer, escolhemos dar prioridade à comida (não desfazendo, ora essa). A dona do restaurante é originária da mesma zona da China que deu ao mundo a cerveja Tsingtao, uma das primeiras palavras proferidas por muito bom visitante de restaurantes chineses e uma espécie de ritual obrigatório. Já agora: a comida é extraordinária. Os noodles, feitos ali, para não haver confusões, são pedaços compridos de céu. Os raviolis são recheados de carne e carinho como não é muito comum encontrar. E as espetadinhas, senhores, as espetadinhas feitas com a melhor das motricidades finas, que atravessam um conjunto de vísceras tão bem temperadas que queremos levá-las para o pequeno-almoço do dia seguinte e consequentes refeições. Ou então fazemos isso com o entrecosto frito. A escolha não é fácil. O que será de nós!

Chegue cedo, a fila começa a formar-se pelas 18h30.
Chegue cedo, a fila começa a formar-se pelas 18h30.

Kuwazi. C. C. Columbia. Avenida Júlio Dinis, 14, loja 11, Lisboa. De segunda a sábado, das 12h às 16h e das 18h às 22h. Telefone: 927 243 468

Mandarim: uma aposta vencedora que sabe a pato

Era uma vez o senhor Stanley Ho, nascido em Hong Kong, feito homem de negócios de reputada fama em Macau, transformando aquele território num templo do jogo e levando a indústria dos casinos para lá das fronteiras. Lisboa, Póvoa de Varzim e Estoril acolheram-lhe os empreendimentos e as jogatanas e foi nesta terceira localidade, com vista para o mar, que o senhor Ho decidiu que era boa ideia garantir a disponibilidade permanente da gastronomia que mais apreciava — a cantonesa. E assim nasceu o Mandarim, restaurante que quer continuar a ser uma referência, no menu, no conforto, no acolhimento e no Pato à Pequim. Escrevemos assim, em maiúsculas, porque é motivo de reverência. Falamos de um prato que é um monumento e que é servido com a circunstância que merece. A tradição preenche o menu, mas aqui segue outra dica: se for ao almoço, atire-se às propostas Dim Sum que tal horário garante. Arrependimentos? Vai ter zero. Confie.

O Mandarim é um ilustre representante da alta cozinha de Kwun Tong, zona industrial de Hong Kong, no Estoril. ©Casino Estoril
O Mandarim é um ilustre representante da alta cozinha de Kwun Tong, zona industrial de Hong Kong, no Estoril. ©Casino Estoril

Mandarim. Casino Estoril, Avenida Stanley Ho, 2765-253, Estoril. De quarta a domingo, das 12h às 15h e das 19h às 23h. Telefone: 214 667 270

Instituto dos Petiscos Noturnos: é preciso dizer mais alguma coisa?

Há tantas razões para visitar este restaurante. A primeira: o nome. É a tradução direta dos caracteres chineses que lhe servem de firma e é tão surpreendente que é impossível não nos questionarmos “mas o que é se passa num estabelecimento com este título?”. E já que estamos numa de nomes, a responsável e cozinheira é a Sofia. Se é chinesa? É. Se é este o seu nome verdadeiro? Não. Se é possível saber qual é? Também não. Assunto resolvido. Avancemos para outras mais valias: está aberto das 18h às 02h, o que vai de mão dada com a qualidade noturna dos petiscos servidos. E quais são? Tomai nota: o robalo em caldo picante como uma das especialidades; a sopa de sapo como uma das curiosidades; espetadas de línguas ou corações; salada de pés de galinha; salsicha gorda. O menu é tão inesperado como é inesperado encontrar uma mesa destas em Chelas, mas tudo isto só lhe dá mais tempero. Se registar um serviço um pouco mais lento do que o habitual, nada de surpresas e muita compreensão: Sofia faz questão de, ela própria, comandar esta carta mais-do-que-tradicional e isso tem consequências. Mas como diz o ditado criado agora mesmo: o que é bom, nunca atrasou.

Entre o menu eletrónico e a montra analógica, não faltam petiscos como sopa de sapo ou salada de pés de galinha.
Entre o menu eletrónico e a montra analógica, não faltam petiscos como sopa de sapo ou salada de pés de galinha.

Instituto dos Petiscos Noturnos. Rua Engenheiro Ferreira Dias AB, Lisboa. Todos os dias, das 18h às 02h. Telefone: 932 039 110