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As tabernas, as carnes intensas e os doces bem doces são sinónimos de Santarém

Restaurantes onde comer em Santarém e saborear a gastronomia ribatejana

Sem matar a tradição, há uma onda gastronómica em Santarém

07/03/2025

Texto: Catarina Moura

Fotografia: Tiago Pais

Home: As tabernas, as carnes intensas e os doces bem doces são sinónimos de Santarém, mas há uma geração que quer ir além do passado e tornar a cidade que vai receber a Gala do Guia Repsol Portugal num destino gastronómico completo.

Uma da tarde de sábado e o mundo todo se lembrou de aparecer no Quinzena sem marcar. Passando um vestíbulo mínimo, onde não se ouve quase nada, começa a levar-se com tudo: os filhos e netos de pé, os avós esperam sentados e Fernando, empregado de mesa com 25 anos de casa, canta músicas do Toy temperadas com outras do Emanuel. Dois clientes habituais são recebidos com graças e provocações: “Tomem lá o pequeno-almoço”, enquanto lhes servem um copo de três no balcão — apesar da fama que ganhou como restaurante, continua a ser uma taberna. Não marcar mesa da Taberna do Quinzena é esquecimento e espontaneidade de fim de semana ou simplesmente vontade de ficar um bocado a assistir a este espetáculo?

Este é o lado mais tradicional e antigo dos restaurantes de Santarém: popular, com carnes ribatejanas grelhadas ou estufadas no menu e, no caso do Quinzena, decoração tauromáquica. Mas há uma nova geração de restauradores a surgir. Querem fazer da cidade que vai receber a Gala do Guia Repsol no dia 7 de Abril um destino gastronómico ou, pelo menos, um ponto de paragem obrigatório onde carregar baterias a meio de uma viagem.

Ó Balcão

O mais aclamado exemplo da nova era da restauração de Santarém é o premiado Ó Balcão. Rodrigo Castelo, o seu fundador e chef, tornou-se nos últimos anos um embaixador da cidade e da cozinha ribatejana e um divulgador do potencial gastronómico dos peixes de rio. Não dos bem conhecidos sáveis ou enguias, que devem ser capturados e consumidos com regra e parcimónia, já que estão em declínio nos rios portugueses. Rodrigo Castelo explora e divulga os outros, os invasores mastodônticos, introduzidos pelo homem para se tornarem prémios de pesca desportiva, e que são furiosos predadores dos nativos.

Rodrigo Castela
Rodrigo Castelo é o responsável pelo Ó Balcão e pelos seus pratos de peixes de rio. Fotografia David Pires

Lúcio, achigã ou siluro são nomes comuns no menu de degustação do Ó Balcão. Apesar de terem um baixíssimo valor comercial, são tratados tecnicamente como os mais nobres. Resultam em pratos refinados, sempre com gastronomia ribatejana como estrela-guia — veja-se o filete de siluro com emulsão de couves e chouriço e salada de ervilhas, o lúcio com pilpil e grão (a fazer lembrar um prato de bacalhau) ou mesmo os curados de invasores do Tejo que Rodrigo Castelo desenvolveu em parceria com a Escola Superior Agrária de Santarém.

O que se vê quando o carrinho de fumados e curados se aproxima das mesas do Ó Balcão é pesquisa e imaginação: tentar responder a um problema com ciência e criatividade a partir de um restaurante de fine dining. É a partir deste universo requintado e tantas vezes aspiracional que Rodrigo Castelo quer conquistar outros para a sua causa de valorização dos produtos e do rio ribatejano e inspirar dentro e fora de Santarém.

Taberna restaurada
No Ó Balcão ainda se mantém o original lugar da taberna, agora restaurada. Fotografia David Pires

Tudo começou, no entanto, como uma taberna — a Taberna Ó Balcão — e com um Rodrigo Castelo autodidata a cumprir o sonho de ter um restaurante em 2014. Na época só vendia petiscos e o ambiente não era muito diferente daquele que se encontra ainda na Taberna do Quinzena, a escassos metros.

Taberna do Quinzena

Fernando Batista, com a alcunha herdada de Quinzena, é o descendente do Quinzena inaugural, o bisavô, que tinha esta casa como taberna há mais de cem anos. Quem vinha do campo passava aqui para beber um copo e ficava a dever, pagava quando recebia, à quinzena.

Carne do touro bravo
A carne de touro bravo estufada é um dos pratos habituais na Taberna do Quinzena

Com as gerações seguintes o ocasional petisco passou a ser prática, mas Fernando Batista, a quarta geração, achou que era pouco para esta casa. Abriu um labirinto de salas e salinhas, todas decoradas tauromaquicamente, e servem-se hoje jantares e almoços: as carnes de touro bravo estufadas, o bife cancan, uma espécie de bife à café com uns quantos temperos que não se revelam, e o fenómeno das espetadas — quando sai uma da cozinha, é sabido que vão chover os pedidos por aquele centro de mesa.

Decoraçao taurina
A tauromaquia é o tema presente em cada sala

Depois do almoço, sobretudo em dia de jogo, a Taberna do Quinzena continua a ser o que sempre foi: bebem-se copinhos, bebem-se imperiais, olha-se para a bola e segura-se o corpo no balcão para conversar.

Chapa 7

Entre este cúmulo do tradicional e a cozinha de investigação e técnica de Rodrigo Castelo há uma grande distância, mas Santarém não tem só estes dois polos longínquos. Há variedade para criar um ecossistema gastronómico interessante. À saída do centro, Carlos Esteves garante que a sua marisqueira é um destino e não apenas uma paragem estratégica de quem viaja pelo país, por causa de mordomias como o arroz de marisco descascado ou a açorda de lavagante com camarão vermelho, uma garrafeira com mais de 70 referências de champanhe e um prego alto e tenro.

Carlos Esteveles
Carlos Esteves é o responsável pelo Chapa 7, a marisqueira que se transformou em destino

“Há quem venha mariscar e há quem venha só para o prego. Já me disseram que é o melhor prego de sempre. É o produto que menos rentabilidade me dá, mas dá-nos muita fama”, conta Carlos Esteves, dono e cozinheiro do Chapa 7. Há 11 anos abriu uma pequena marisqueira para o sogro, conhecido por Chapa, que tem 40 anos de experiência na restauração e segue por aqui. Mas o restaurante cresceu e o interesse da família pela restauração também: agora Carlos faz “uma dupla imbatível” com o sogro na cozinha e a mulher, Joana, enche o carrinho das sobremesas com mousse de chocolate, pudim, tarte de amêndoa, molotof.

Mil referencias ao vinho
As mil referências de vinho e uma garrafeira especializada em Champanhe são trunfos no Chapa 7

A pouco e pouco esta marisqueira familiar foi-se tornando afamada, ganhou espaço à larga para as mesas e requintes como uma garrafeira com mais de mil referências de vinhos ou um humidificador de charutos conquistaram fãs religiosos. A decorar a parede, não estão camisolas de futebol, mas jalecas de chefs com um autógrafo em agradecimento. Para Carlos, a razão é “o produto top. Não o estragamos, quase não lhe mexemos”.

Amassa

De volta ao centro da cidade, bem no meio da malha antiga, abriram dois restaurantes com uma abordagem contemporânea e descontraída a cozinhas tradicionais. De um lado, o Deselegante, onde o chef Rui Lima Santos avança uma cozinha portuguesa elegante e com um ou outro truque. Do outro lado da rua, o Amassa, uma abordagem à cozinha italiana. Aliás, “não lhe posso chamar italiano”, corrige Francisco Calheiros, “é uma cozinha virada para o mediterrâneo”.

Cozinha Italiana
No Amassa, a cozinha italiana tradicional encontra os sabores ribatejanos

Insistimos, ainda assim: a cozinha italiana é óbvia no Amassa. Aqui podem até combinar-se diferentes tipos de massa com molhos e há pizzas napolitanas. Porém, para o escalabitano Francisco Calheiros, o cerne do restaurante não é este lado pop — são os produtos italianos de pequenos produtores de que andam à procura em feiras italianas e que resultam em carbonaras e ragus tradicionais ou mesmo em tábuas de queijos e charcutaria. “É sempre um desafio estar nesta zona mais interior, o nosso trabalho é explicar porque escolhemos estes produtos e connosco funciona, crescemos com o passa-palavra”, diz o dono do Amassa.

Francisco Calheiros e o chef Maurício Lage
Francisco Calheiros desafiou o chef Maurício Lage a criar uma carta que divulgasse produtos tradicionais italianos

Na cozinha está Maurício Lage, um brasileiro com alguns anos de escola italiana e que vai tentando a tal fusão mediterrânica de que se falava em pratos de paccheri com polvo ou papardelle com rabo de boi. À sobremesa, pisca o olho a Santarém com uns cannelloni recheados com doce de ovo, inspirados no pampilho.

Pastelaria Bijou

O bolo é conhecido por todo o país e desperta paixões — tão grandes que há uns anos nasceu o pampilhão, um pampilho de um quilo, tamanho mais do que familiar e que acentua aquela sensação de interior mal cozido que alguns procuram. Mas voltemos ao início e no início era a Bijou, uma pastelaria fundada em 1946 junto à Sé de Santarém e comprada por Alfredo Oliveira poucos anos depois. Já nos 70 era preciso animar o negócio e o dono teve a ideia de enrolar a massa areada das bolachas numa espécie de torta recheada com doce de ovos. O bolinho ficou com ar esticadinho e chamou-lhe pampilho, o nome da vara com que os campinos da região guiam o gado.

Pampilho
O nome pampilho lembra a vara que os campinos usavam para guiar o gado 

O nome e o bolo pegaram, veio a Bijou 2 e a Bijou 3 (todas em Santarém) e o tal pampilhão de um quilo. Paulo Oliveira é da segunda geração ao leme destas pastelarias que são mais além do pampilho — sortidos em miniatura, um lindíssimo palmier francês ou os arrepiados de Almoster. “Uma montra assim… nem em Lisboa há disto”, diz Miguel, há 27 a trabalhar nesta casa. Sobretudo não há na capital um regionalismo como as pombinhas, um pão ligeiramente doce e que está nas memórias de todos os escalabitanos. A sua forma de pomba — em alguns casos mais vaga do que noutros — talvez tenha a ver com o culto ao Espírito Santo, mas é melhor não se fiar na fé para as encontrar: na Bijou esgotam logo pela manhã.

Celestes & Companhia

Se as pombinhas e os pampilhos são bolos populares, quando se trinca um celeste, o outro ícone de Santarém, não há dúvidas da sua riqueza. A receita é atribuída ao convento de Santa Clara, mas o seu divulgador foi Ajax Rato. A lenda urbana diz que era afilhado de uma das freiras do convento no início do século e que terá, a dada altura, ficado com a receita. Começou a fazê-los para vender na sua mercearia escondendo as quantidades das empregadas.

Ana Figueiras
Ana Figueiras faz celestes segundo a receita que herdou da mãe

“A minha mãe ficava a ouvir as pancadinhas dos ovos [para os partir] até perceber quantos é que ele usava”, conta Ana Figueiras, filha de Beatriz Ribeiro e dona e confeiteira da Celestes & Companhia. Beatriz conseguiu apanhar a receita e, com a morte do patrão, tornou-se a fornecedora de celestes das pastelarias locais. A filha decidiu continuar com uma marca própria, depois de alguns anos como professora de educação visual.

Laterais hostia
As bases e laterais de hóstia são cortadas uma a uma e montadas com o recheio num processo minucioso

António já tem de cor as quantidades de ovos, amêndoa e açúcar. Nos tempos mortos, o casal faz o trabalho repetitivo de cortar as bases e as laterais de hóstia de cada um dos celestes. No final, depois de recheada esta fina base, há que “despenteá-los” com um palito, criando umas irregularidades que vão tostar ao forno.

A Celeste & Companhia vende estes bolinhos como joalharia, só por encomenda, e manter o segredo é tradição. Desde o início há uma zona reservada com fogões, onde a alquimia acontece e só entra o casal Figueiras. “Não passamos a receita, nunca a demos de mão beijada… mas a nossa funcionária já a há-se saber”, imagina Ana, lembrando-se da mãe a escutar os ovos.

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