Estabelecimentos gastronômicos mais procurados
Locais de interesse mais visitados
Desculpe, não há resultados para a sua pesquisa. Tente novamente!
Adicionar evento ao calendário
O nome Gadanha já era conhecido em Estremoz desde 2009, quando a brasileira Michele Marques abriu uma mercearia com produtos locais, a Mercearia Gadanha, no largo principal da cidade. Poucos anos depois, em 2013, a “lojinha”, como lhe chama, era transformada em restaurante, a pedido de várias famílias que ansiavam por petiscos como “ovinhos com farinheira”. “Foi o momento certo no lugar certo”, recorda a chef de 40 anos. “Nós não tínhamos nada do género aqui na altura. Aliás, em Portugal, passava-se pouca coisa. Ou era um restaurante com muito requinte ou era uma tasca. Nós viemos trazer aquele meio-termo.”
Quase uma década depois, e com o restaurante alentejano sempre cheio, Michele e o marido, o também chef Ruben Trindade Santos, de 37 anos, aventuraram-se noutro meio-termo. O meio-termo entre a casa de campo e o boutique hotel, entre a cozinha de autor e os produtos alentejanos. O resultado, a Casa do Gadanha, materializou-se em Março de 2022, com a inauguração do hotel e restaurante com o mesmo nome, a poucos minutos a pé da Mercearia Gadanha.
No início, a ideia era que fosse apenas um pequeno hotel, resultado da recuperação de uma antiga casa senhorial, co-financiada pelo projecto Portugal 2020. Durante as obras, perceberam que era impossível ignorar o “rés-do chão incrível”, diz Michele, referindo-se ao espaço que deveria dar lugar à sala de pequenos-almoços. “O projecto não estava pensado assim, mas, com o nosso background em restauração, decidimos fazer aqui também um restaurante”, corrobora Ruben. “Depois, lá em casa somos dois chefs, dois cozinheiros, cada um com a sua personalidade”, completa Michele. “Acaba por ser complicado trabalharmos os dois no mesmo sítio.”
Antes de abrirem portas, decidiram também que este não era um hotel para crianças pequenas. “Nós falamos abertamente disso, temos dois [filhos], sabemos o que é que a casa gasta”, afirma Ruben. É antes um sítio para “desligar”, como se lê num quadro num dos quartos do hotel. “A partir dos 8 anos, podem trazer as crianças, mas a ideia é ter um fim de semana de gastronomia e vinho”, continua o chef. “É o Alentejo para relaxar, para namorar, para desligar, para deixar o telemóvel no quarto, para dormir até um bocadinho mais tarde...”.
Os 12 quartos estão divididos por dois andares, seis em cada um deles, num equilíbrio entre o ambiente familiar e acolhedor, com uma sala comum, e a privacidade necessária para quem quer, de facto, desligar-se do resto do mundo. No piso superior, que foi acrescentado ao edifício original, há um rooftop com um honesty bar, uma esplanada para apanhar sol e um tanque para os dias quentes. “Estremoz está num processo de crescimento e nós temos um produto brutal, dentro da simplicidade e sem sermos presunçosos”, descreve Ruben. “É um sítio único na cidade e, a juntar às duas ofertas gastronómicas que temos, criamos um roteiro de fim-de-semana perfeito.”
Se, quando a Mercearia Gadanha abriu portas, a oferta de alojamento em Estremoz era escassa, nos últimos anos a situação mudou. É, por isso, que Michele Marques tem consciência que os clientes aqui se conquistam, essencialmente, “pela barriga”. Os produtos do pequeno-almoço, do pão à granola, são feitos na casa, tal como as bolachinhas de boas-vindas nos quartos. Podem parecer pormenores, mas “fazem toda a diferença”, garante.
Já o restaurante, a funcionar desde a abertura do hotel, em 2022, quis trazer “algo diferente” à cidade, agora “mais aberta para experimentar outras coisas”, diz Ruben, responsável pela cozinha.
Ao longo dos anos, Ruben trabalhou ao lado de chefs como Nuno Mendes, João Rodrigues ou Fausto Airoldi. Aqui, explora sozinho as suas influências, pegando em “90% de produto local”, com “uma abordagem mais internacional e o maior foco possível em sustentabilidade.”
Entre as apostas iniciais estavam as pizzas em forno a lenha – com ingredientes pouco comuns como farinheira e pimento ou leitão e laranja –, que, entretanto, saíram do menu. “Arriscámos porque era um mercado por explorar, mas é um negócio de volume que não temos aqui, por isso não valia a pena”, continua o chef.
Hoje, o forno tem outro propósito. Além de servir para preparar o pão de fermentação lenta que enriquece o pequeno-almoço e o couvert (com manteiga de banha de porco), serve também para confeccionar a “comida de conforto” que recentemente chegou à carta. Por exemplo, o arroz de forno que acompanha as carnes maturadas. “Pratos que trazem mais memória daquilo que é tradicional e local”, sublinha o chef, que quer que o restaurante não seja apenas para turistas ou “ocasiões especiais”.
Ao almoço e ao jantar, os clientes podem optar por pratos da carta, ideais para partilhar, ou entregar-se à criatividade do chef, com um menu de degustação de seis (55 euros) ou oito momentos (75 euros), acompanhado de vinhos de produtores locais (36 euros o pairing). Entre as sugestões para partilhar, destaca-se a beringela com mel e caju, o tártaro de novilho com ostra e capuchinhas e a lula com manteiga de caril vermelho e couve crocante, preparados de acordo com a sazonalidade dos produtos.
Só um prato resiste na carta desde a abertura, a sobremesa com doce de ovo, pão e iogurte. “A malta gosta de arriscar menos, joga pelo seguro e vai para essa sobremesa”, diz Ruben.
Desengane-se quem chega à Casa do Gadanha à procura de uma experiência semelhante à “mais consensual”, palavras do chef, Mercearia Gadanha. A Casa do Gadanha tem a sua própria identidade, mas também sabe agarrar os clientes pela barriga.
Casa do Gadanha. Rua Vasco da Gama, 6, Estremoz. Telef: 268 249 793 (restaurante)/ 268 249 790 (hotel)