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Casa do Gadanha

Casa do Gadanha (Estremoz)

Casa do Gadanha: Aqui os clientes conquistam-se pela barriga

19/12/2024

Texto: Clara Silva

Fotografia: Ágata Xavier

Em Estremoz, a Casa do Gadanha é hotel, mas também é restaurante. O projecto de um casal de chefs, Ruben e Michele, é um refúgio para desligar e comer bem.

O nome Gadanha já era conhecido em Estremoz desde 2009, quando a brasileira Michele Marques abriu uma mercearia com produtos locais, a Mercearia Gadanha, no largo principal da cidade. Poucos anos depois, em 2013, a “lojinha”, como lhe chama, era transformada em restaurante, a pedido de várias famílias que ansiavam por petiscos como “ovinhos com farinheira”. “Foi o momento certo no lugar certo”, recorda a chef de 40 anos. “Nós não tínhamos nada do género aqui na altura. Aliás, em Portugal, passava-se pouca coisa. Ou era um restaurante com muito requinte ou era uma tasca. Nós viemos trazer aquele meio-termo.”

A Casa do Gadanha, projecto de Michele Marques e Ruben Trindade Santos, abriu portas em 2022
A Casa do Gadanha, projecto de Michele Marques e Ruben Trindade Santos, abriu portas em 2022

Michele e Ruben abrem a Casa do Gadanha

Quase uma década depois, e com o restaurante alentejano sempre cheio, Michele e o marido, o também chef Ruben Trindade Santos, de 37 anos, aventuraram-se noutro meio-termo. O meio-termo entre a casa de campo e o boutique hotel, entre a cozinha de autor e os produtos alentejanos. O resultado, a Casa do Gadanha, materializou-se em Março de 2022, com a inauguração do hotel e restaurante com o mesmo nome, a poucos minutos a pé da Mercearia Gadanha.

Com 12 quartos divididos por dois andares, a Casa do Gadanha é um híbrido entre casa de campo e boutique hotel
Com 12 quartos divididos por dois andares, a Casa do Gadanha é um híbrido entre casa de campo e boutique hotel
Há um tanque no rooftop a chamar pelos dias quentes de verão
Há um tanque no rooftop a chamar pelos dias quentes de verão
O pequeno-almoço é servido no piso térreo
O pequeno-almoço é servido no piso térreo
O pão é feito na casa, como quase tudo o que encontra ao pequeno-almoço
O pão é feito na casa, como quase tudo o que encontra ao pequeno-almoço

No início, a ideia era que fosse apenas um pequeno hotel, resultado da recuperação de uma antiga casa senhorial, co-financiada pelo projecto Portugal 2020. Durante as obras, perceberam que era impossível ignorar o “rés-do chão incrível”, diz Michele, referindo-se ao espaço que deveria dar lugar à sala de pequenos-almoços. “O projecto não estava pensado assim, mas, com o nosso background em restauração, decidimos fazer aqui também um restaurante”, corrobora Ruben. “Depois, lá em casa somos dois chefs, dois cozinheiros, cada um com a sua personalidade”, completa Michele. “Acaba por ser complicado trabalharmos os dois no mesmo sítio.”

“Vagar”, “Desligar”, e outras mensagems a apelar ao descanso encontram-se emolduradas em cada um dos quartos. À direita, o pátio interior que fica no primeiro piso
“Vagar”, “Desligar”, e outras mensagems a apelar ao descanso encontram-se emolduradas em cada um dos quartos. À direita, o pátio interior que fica no primeiro piso

Antes de abrirem portas, decidiram também que este não era um hotel para crianças pequenas. “Nós falamos abertamente disso, temos dois [filhos], sabemos o que é que a casa gasta”, afirma Ruben. É antes um sítio para “desligar”, como se lê num quadro num dos quartos do hotel. “A partir dos 8 anos, podem trazer as crianças, mas a ideia é ter um fim de semana de gastronomia e vinho”, continua o chef. “É o Alentejo para relaxar, para namorar, para desligar, para deixar o telemóvel no quarto, para dormir até um bocadinho mais tarde...”.

O honesty bar que fica no último piso e a bonita escada em caracol que liga a sala comum ao rooftop
O honesty bar que fica no último piso e a bonita escada em caracol que liga a sala comum ao rooftop

Os 12 quartos estão divididos por dois andares, seis em cada um deles, num equilíbrio entre o ambiente familiar e acolhedor, com uma sala comum, e a privacidade necessária para quem quer, de facto, desligar-se do resto do mundo. No piso superior, que foi acrescentado ao edifício original, há um rooftop com um honesty bar, uma esplanada para apanhar sol e um tanque para os dias quentes. “Estremoz está num processo de crescimento e nós temos um produto brutal, dentro da simplicidade e sem sermos presunçosos”, descreve Ruben. “É um sítio único na cidade e, a juntar às duas ofertas gastronómicas que temos, criamos um roteiro de fim-de-semana perfeito.”

O pequeno-almoço inclui produtos feitos na casa e de produtores que estão a poucos quilómetros do hotel
O pequeno-almoço inclui produtos feitos na casa e de produtores que estão a poucos quilómetros do hotel

Se, quando a Mercearia Gadanha abriu portas, a oferta de alojamento em Estremoz era escassa, nos últimos anos a situação mudou. É, por isso, que Michele Marques tem consciência que os clientes aqui se conquistam, essencialmente, “pela barriga”. Os produtos do pequeno-almoço, do pão à granola, são feitos na casa, tal como as bolachinhas de boas-vindas nos quartos. Podem parecer pormenores, mas “fazem toda a diferença”, garante.

O restaurante com o mesmo nome está a funcionar desde a abertura do hotel.  À direita, Beringela com mel, especiarias e caju
O restaurante com o mesmo nome está a funcionar desde a abertura do hotel. À direita, Beringela com mel, especiarias e caju

O restaurante: na cozinha de Ruben Trindade Santos

Já o restaurante, a funcionar desde a abertura do hotel, em 2022, quis trazer “algo diferente” à cidade, agora “mais aberta para experimentar outras coisas”, diz Ruben, responsável pela cozinha.

Ao longo dos anos, Ruben trabalhou ao lado de chefs como Nuno Mendes, João Rodrigues ou Fausto Airoldi. Aqui, explora sozinho as suas influências, pegando em “90% de produto local”, com “uma abordagem mais internacional e o maior foco possível em sustentabilidade.”

Com 90% de produto local, o restaurante serve comida de autor que apela à memória e tradição
Com 90% de produto local, o restaurante serve comida de autor que apela à memória e tradição
O forno a lenha que antes fazia pizzas serve agora para, entre outros, fazer o pão de massa mãe que é servido no restaurante e no hotel
O forno a lenha que antes fazia pizzas serve agora para, entre outros, fazer o pão de massa mãe que é servido no restaurante e no hotel

Entre as apostas iniciais estavam as pizzas em forno a lenha – com ingredientes pouco comuns como farinheira e pimento ou leitão e laranja –, que, entretanto, saíram do menu. “Arriscámos porque era um mercado por explorar, mas é um negócio de volume que não temos aqui, por isso não valia a pena”, continua o chef.

Ruben Trindade Santos está à frente da cozinha. À direita, croquete de cabrito e mostarda de cenoura
Ruben Trindade Santos está à frente da cozinha. À direita, croquete de cabrito e mostarda de cenoura

Hoje, o forno tem outro propósito. Além de servir para preparar o pão de fermentação lenta que enriquece o pequeno-almoço e o couvert (com manteiga de banha de porco), serve também para confeccionar a “comida de conforto” que recentemente chegou à carta. Por exemplo, o arroz de forno que acompanha as carnes maturadas. “Pratos que trazem mais memória daquilo que é tradicional e local”, sublinha o chef, que quer que o restaurante não seja apenas para turistas ou “ocasiões especiais”.

Na Casa do Gadanha pode optar por  pratos da carta ou dois menus de desgustação (com seis e oito momentos)
Na Casa do Gadanha pode optar por pratos da carta ou dois menus de desgustação (com seis e oito momentos)

Ao almoço e ao jantar, os clientes podem optar por pratos da carta, ideais para partilhar, ou entregar-se à criatividade do chef, com um menu de degustação de seis (55 euros) ou oito momentos (75 euros), acompanhado de vinhos de produtores locais (36 euros o pairing). Entre as sugestões para partilhar, destaca-se a beringela com mel e caju, o tártaro de novilho com ostra e capuchinhas e a lula com manteiga de caril vermelho e couve crocante, preparados de acordo com a sazonalidade dos produtos.

Vazia maturada com batata frita e alface
Vazia maturada com batata frita e alface

Só um prato resiste na carta desde a abertura, a sobremesa com doce de ovo, pão e iogurte. “A malta gosta de arriscar menos, joga pelo seguro e vai para essa sobremesa”, diz Ruben.

Tártaro de novilho, ostra e capuchinhas
Tártaro de novilho, ostra e capuchinhas
Lula de toneira, manteiga de caril vermelho e couve selvagem
Lula de toneira, manteiga de caril vermelho e couve selvagem

Desengane-se quem chega à Casa do Gadanha à procura de uma experiência semelhante à “mais consensual”, palavras do chef, Mercearia Gadanha. A Casa do Gadanha tem a sua própria identidade, mas também sabe agarrar os clientes pela barriga.

Casa do Gadanha. Rua Vasco da Gama, 6, Estremoz. Telef: 268 249 793 (restaurante)/  268 249 790 (hotel)