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Há lugares que têm a capacidade de nos transportar para outra época, longe do tempo e do espaço presentes. O Palacete Severo é um desses lugares. Para lá do muro que o separa da rua, mergulhamos num Porto Romântico e numa calma que é contrária à do movimento da cidade, caótica no seu desalinho de carros e de obras.
Este edifício desenhado pelo arquiteto Ricardo Severo (1869-1940) no início do século XX, e classificado de interesse histórico, renasceu no outono como um boutique hotel de cinco estrelas. Tem 20 quartos e suites, assinados pelo designer de interiores Paulo Lobo, e também uma galeria de arte, um bar, uma sala de eventos privados, um SPA e dois restaurantes: um gastronómico e outro de fine casual dining, ambos liderados pelo chef Tiago Bonito, que abandou o premiado Largo do Paço, em Amarante, para abraçar este projeto.
As semelhanças com o edifício original, idealizado como protótipo da casa portuguesa de época, são várias e espelham o cuidado com que os atuais proprietários acolheram a obra. Para o casal francês dono da empresa Constellation du Taureau, era claro que a intervenção deveria respeitar ao máximo a visão de Ricardo Severo. «Nada foi deitado abaixo. Tivemos uma equipa de restauradores a trabalhar aqui durante um ano», refere Joana Almeida, diretora geral do hotel.
As portas de madeira dos quartos foram abertas ao meio, para serem insonorizadas, e posteriormente reagrupadas; os focos e cabos de luz camuflados por trás do papel de parede e dos tetos em madeira e estuque; os vitrais, da oficina do artista catalão Antoni Rigalt i Blanch (1850 – 1914) foram restaurados à mão; o pátio exterior foi cuidadosamente limpo para que a beleza dos seus azulejos e mosaicos originais voltasse a emergir do musgo. E até o carvalho centenário do jardim voltou a respirar com soltura, liberto da vegetação selvagem que os anos de abandono fizera crescer à sua volta.
«Temos mais de 1.200 fotografias do restauro», diz Joana Almeida. Com elas, revela, será editado um livro, cujo objetivo passa por registar esse processo meticuloso, como também a história do Palacete e a simbologia dos elementos que o adornam. Ricardo Severo, sendo um homem do Romântico, trouxe a natureza, a antiguidade e a mitologia grega para aquela que foi a sua casa até 1908, ano em que voltou para o Brasil, onde estivera anteriormente exilado.
Há evocações a Neptuno, numa fonte de granito, ou a Atena, num dos vitrais mais impressionantes do edifício, bem como reproduções da suástica hindu em alguns mosaicos, traço típico do neorromantismo. O edifício é, em si, um espaço museológico que qualquer apreciador de arte deveria visitar, pelo menos uma vez na vida.
Não foi por acaso que a proprietária Geraldine Banier decidiu inaugurar aqui a Perspective Galerie, uma extensão da casa-mãe que a própria detém em Paris. Funcionando por ciclos de exposições temporárias, a galeria exibirá até dia 26 de janeiro Mystères sous la surface, com obras de Curro González, Patricio Cabrera, Neil Farber, Jas e Cristine Guinamand.
Muitas das obras da galeria estendem-se para as alas comuns do hotel e para os quartos, influindo no modo orgânico como a vida no Palacete Severo se desenrola. O luxo, aqui, não é ostensivo, mas sim funcional e acolhedor. Está embrenhado nos detalhes e no ADN do hotel e da equipa que lhe dá alma. «Os proprietários são adeptos de um conceito a que chamam de basketball luxury, ou seja, um luxo informal», comenta Joana Almeida.
A abordagem do staff, desde o momento da receção, até ao serviço de sala e de room service, é descontraída, mas sempre atenta, deixando o cliente perfeitamente à vontade na sua estadia, como se aquele lugar lhe fosse familiar há anos. Há espaço para conversas mais longas, se assim o desejar, e até para uma gargalhada que se solta sem aviso, como também para o recato e para o sossego, quando o silêncio é tudo o que procuramos.
A piscina exterior, de água salgada e aquecida, é apetecível até em dias de morrinha e o SPA, com tratamentos e produtos de assinatura da marca Olivier Claire, está equipado com uma sala de sal dos Himalaias com cromoterapia e luz direta. Hóspedes e não hóspedes, mediante marcação, podem usufruir dos seus tratamentos, bem como da cozinha do chef Tiago Bonito, tanto à carta, no Bistrô Severo, como no Éon, que funciona aos jantares com menu de degustação.
Na hora do descanso, seja no «quarto pequenino», aquele que está encaixado no meio de um lanço de escadas e que é inspirado no minimalismo e funcionalismo japonês, como na suite que fica no antigo pombal, o silêncio impera. Com o raiar do sol, poderá ouvir um leve ranger da madeira, também ela testemunha dos passos do edifício original. Nada que se intrometa no descanso, pelo contrário. Quando a madeira fala, sabemos que o Palacete Severo está vivo e a preparar-se para nos dar os bons dias, com o cuidado de quem faz gosto de nos receber em casa.
Palacete Severo. Rua Ricardo Severo, 21, Porto. Telefone: 229 677 000. Preço: a partir de €350/noite.