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mano sirviendo un vino espumoso

Rota dos Espumantes da Bairrada. Passagem de Ano

Um brinde com espumante e arte nas caves da Bairrada

02/01/2025

Texto: Clara Silva

Fotografia: Ana Brígida

Na passagem de ano, é provável que comece 2025 com um destes espumantes na mão. Fomos visitar o mundo subterrâneo da Bairrada.

1. Caves Messias

Messias Baptista, fundador das Caves Messias, terá começado pelo comércio de animais em feiras. Desde sempre, teve olho para o negócio e viu no mundo dos vinhos uma oportunidade. Primeiro a vender aguardente vínica a produtores de vinho do Porto, e depois com o seu próprio império, que agora inclui vinhas no Douro, no Dão e uma marca de Vinhos Verdes – além dos espumantes da Bairrada, claro.

cavas enfrentados
Há dez tipos de espumantes diferentes nas Caves Messias. Estagiam entre 9 e 72 meses.

Apesar da fama dos espumantes, o principal negócio da empresa nos dias de hoje é o vinho do Porto, como nos explicam numa visita pelas caves Messias, que inclui um vídeo sobre o seu fundador.

Escondida no meio de garrafas com dezenas de anos e uma camada de pó, está uma rolha dos anos 40, já ressequida. De acordo com os registos, o primeiro espumante da casa terá sido engarrafado nessa altura, em 1946. Agora, produzem-se ali dez tipos de espumantes, a maioria brancos, além de um rosé e um tinto, conta Milena Freitas, uma das guias. “Os espumantes são todos feitos segundo o método clássico ou tradicional, o mesmo usado na produção de champanhe”, continua.

cata de vino
Os espumantes das Caves Messias são feitos pelo método tradicional e a remuage também é manual. Nas visitas, explicam o processo

Nas caves, as garrafas estagiam entre os 9 meses (como o entrada de gama, Messias Branco Bruto, a rondar os 6 euros) e os 72 meses (como o Blanc de Noirs Baga Bairrada, a custar perto de 20 euros). As visitas incluem explicações sobre o método de produção e, por marcação, podem acabar com uma prova no andar de cima da loja.

Caves Messias. Avenida Comendador Messias Baptista, 56, Mealhada. Segunda a sexta, 09h00-13h00, 14h00-18h00; Sábado, 9h00-13h00, 14h00-17h00. Tel. 231 200 970

2. Aliança Underground Museum

Quando, em 2007, o grupo Bacalhôa comprou a Aliança Vinhos de Portugal, empresa de Sangalhos, na Anadia, fundada em 1927 e conhecida pelos espumantes, Joe Berardo quis dar um ar da sua graça e levar para as caves uma parte da sua colecção de arte. As obras de recuperação e limpeza do espaço duraram quase três anos, até que, em Abril de 2010, abriu ao público o Aliança Underground Museum “o maior museu subterrâneo de Portugal, com um quilómetro e meio”, aprendemos durante uma das quatro visitas diárias pelas caves.

pasillo del museo con geodas
A colecção de minerais do Brasil, perto de 300, é um dos pontos altos do Aliança Underground Museum

Não é por acaso que este é o projecto de enoturismo de maior sucesso na Bairrada. Aliás, depois de passarmos pelos oito espaços do museu, com uma impressionante colecção de 300 minerais do Brasil, fósseis com mais de 20 milhões de anos, estatuetas milenares em terracota do Níger e uma colecção de cerâmica das Caldas da Rainha, é fácil esquecermo-nos que o motivo que nos levou ali foi uma prova de espumantes da Bairrada.

pasillo del museo luz tenue roja y botellas
Os espumantes das Caves Messias são feitos pelo método tradicional e a remuage também é manual. Nas visitas, explicam o processo

“O Mundo Efervescente do Vinho Espumante”, assim se chama a prova, custa 20 euros por pessoa e inclui uma visita guiada pelo museu, além da degustação de três espumantes Aliança brutos, caracterizados pelo baixo teor de açúcar. Ao todo, produzem-se na Aliança cerca de um milhão de garrafas por ano e é provável que uma destas acabe nas suas mãos na passagem de ano.

Aliança Underground Museum. Rua do Comércio, 444, Sangalhos, Anadia. Visitas às 10h00, 11h30, 14h30 e 16h00. Tel. 234 732 045. visitas@alianca.pt

3. Caves do Solar de São Domingos

São mais de dois milhões e meio de garrafas de espumante guardadas nas galerias do Solar de São Domingos, algumas com mais de 80 anos. A visita às caves é uma espécie de viagem no tempo até 1937, quando Elpídio Martins Semedo fundou a empresa familiar conhecida pela produção de espumante, mas também pelas aguardentes.

Alexandrino Amorim é a cara das Caves do Solar de São Domingos, a funcionar desde 1937
Alexandrino Amorim é a cara das Caves do Solar de São Domingos, a funcionar desde 1937

Alexandrino Amorim, um dos administradores, é quem nos leva pelas caves repletas de fungos – “Não são teias de aranha, é um fungo próprio das caves”, explica –, para nos mostrar o processo de produção de espumante, com as garrafas empilhadas em pupitres de madeira, mas apenas “para fins museológicos”, sublinha.

Há quatro anos, o processo de remuage, uma etapa do método tradicional de espumante no qual as garrafas são giradas aos poucos – “um quarto de cada vez” –, para que os sedimentos da segunda fermentação se acumulem no gargalo, era feito manualmente, com dois funcionários da casa a virarem cerca de 70 mil garrafas por dia. Agora, há máquinas automáticas que tratam do assunto, as “gyropalettes”, continua Alexandrino. “Não há espumante nenhum aqui que saia com menos de dois a três anos”, garante.

operario trabajando en fábrica de envasado de vinos
Antes, dois funcionários da empresa viravam à mão 70 mil garrafas por dia. Agora, a linha de produção é moderna e a remuage é feita em gyropalettes

Além das visitas pelas caves, que começam nos 12 euros (sem prova) e acabam nos 100 euros (com atividades diferentes na vinha, consoante a altura do ano), também organizam eventos privados e jantares de grupo.

Caves do Solar de São Domingos. Rua Elpídio Martins Semedo, 42, Ferreiros. Segunda a sexta, 09.00-12.30, 14.00-17.30. Tel. 231 519 680

4. Espaço Bairrada da Curia

No antigo edifício da estação ferroviária da Curia, projetado por Cottinelli Telmo, e ainda a guardar vestígios dos tempos passados – dos painéis de azulejos de Jorge Barradas às marcas dos cigarros apagados nos bancos pelos passageiros que esperavam comboio –, funciona desde 2010 o Espaço Bairrada, onde fica a sede da Rota da Bairrada e a sua loja.

Na loja, há vinhos de 43 produtores da Bairrada, alguns que não se encontram em mais lado nenhum
Na loja, há vinhos de 43 produtores da Bairrada, alguns que não se encontram em mais lado nenhum

O propósito principal do espaço é reunir vinhos dos produtores locais, cerca de 43, dos maiores aos menos conhecidos. “Conto por uma mão aqueles que são [vinhos] de grandes produtores, que se encontram no supermercado e noutras regiões em garrafeiras”, diz Jéssica Portovedo, uma das responsáveis pelo enoturismo da Bairrada.

Os painéis de azulejos de Jorge Barradas na antiga sala de espera de passageiros de primeira classe, onde acontecem as provas
Os painéis de azulejos de Jorge Barradas na antiga sala de espera de passageiros de primeira classe, onde acontecem as provas

Entre os produtores mais conhecidos, Jéssica destaca as Caves de São João, as Caves de São Domingos, a Aliança, as Caves Messias e o produtor Luís Pato, um “ícone” da região, com um grande trabalho “em prol da Baga”, a casta local. Os outros, com uma produção mais familiar, podem descobrir-se na loja, onde existem espumantes a partir de 5 euros. O mais barato é o da Cave Central da Bairrada. “Tem este preço porque é um dos poucos feitos através do método Charmat”, explica Jéssica. Nesta técnica, a segunda fermentação do espumante acontece em cubas de inox e não dentro da garrafa, como no método tradicional. Por marcação, fazem-se provas de quatro vinhos da Bairrada, com o custo de 10 euros.

Espaço Bairrada da Curia. Largo da Estação da Curia, Edifício da Estação, Curia. Segunda a domingo, 10h30-13h00 e 14h00-19h00. Tel. 231 503 105.