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João Tomás e Isabel Costa sempre gostaram da montanha. “Sempre tivemos um gosto muito especial pela natureza e pelas caminhadas”, conta João, que trabalhava na banca até sentir que precisava de “mudar de vida”. A mudança aconteceu na Serra da Estrela, quando o casal decidiu comprar o que restava do antigo sanatório das Penhas Douradas, a 1500 metros de altitude, “praticamente em ruína”, para construir um refúgio e receber amigos
No início, pensaram fazer uma “casa de férias”, mas a ideia de transformar o sanatório num hotel, a Casa das Penhas Douradas, começou a ganhar forma. Primeiro com um “hotel pequenino”, com nove quartos, em 2006, depois com um hotel maior, já com 19 quartos (agora são 17 e uma suite) e outra “sustentabilidade”, que permitisse a João e Isabel deixar a vida citadina e os seus outros projectos, “como gestores”, para se dedicarem à serra a tempo inteiro.
O médico Sousa Martins, um dos participantes na primeira expedição à Serra da Estrela, em 1881, já tinha considerado as Penhas Douradas o lugar mais saudável do país, graças ao clima, à situação geográfica e à qualidade do ar. No ano seguinte, escolheu instalar ali um paciente seu, Alfredo César Henriques, naquela que foi a primeira casa de tratamento de tuberculose, a Casa da Fraga, esculpida na pedra, que ainda hoje resiste e fica a uma curta caminhada do hotel.
A expedição de 1881 à serra serviu, aliás, de inspiração para o conceito da Casa das Penhas Douradas, um hotel confortável, ao estilo nórdico, com lareiras, esquis antigos nas paredes, e revestido a madeira de bétula e cortiça.
No caminho para a recepção há uma pequena exposição alusiva à histórica expedição do século 19 com fotografias, uma máquina fotográfica, uma lupa e registos do médico Sousa Martins, que “curiosamente morreu de tuberculose”, conta João Pedro Sousa, assistente de direcção do hotel.
João Pedro, que também é um guia experiente de montanha, garante que as Penhas Douradas são o “melhor ponto de partida para caminhadas”. Daí que, enquanto no Inverno o hotel é muito procurado por portugueses e brasileiros que querem ver neve e tomar um banho quente, a 38 graus, no ofurô instalado no exterior do hotel (a 20 euros/pessoa), na Primavera começa o “turismo de natureza”, cada vez mais procurado por quem chega do Norte da Europa.
A partir do hotel há mais de 250 quilómetros de percursos pedestres e de BTT assinalados e todos os dias se organiza uma caminhada mais acessível nas redondezas, gratuita para hóspedes.
O percurso mais popular é, no entanto, feito de carro. Do hotel até à Torre, no topo da Serra, a 1993 metros de altitude, são cerca de 40 minutos, uma peregrinação obrigatória para quem quer desfrutar da neve no ponto mais alto de Portugal Continental – nos meses em que existe, normalmente entre Novembro e Abril, com maior probabilidade nos meses de Janeiro e Fevereiro.
Quem não chega equipado, pode comprar todo o tipo de parafernália no popular Centro Comercial da Torre, onde não faltam brinquedos para fazer bolas de neve ou trenós de “sku”, a 5 euros. Além de meias de lã, botas e gorros, este é também um ponto de venda de queijo da serra e licores, que os vendedores mais bem-humorados dão a provar aos visitantes.
No regresso, o ideal é seguir pela N338 em direcção a Manteigas, com uma paragem estratégica no Miradouro do Vale Glaciário, onde podemos observar o Vale Glaciar do Zêzere, um dos maiores da Europa, e aprender sobre a formação dos glaciares, há 30 mil anos. Na descida, e no início do Vale Glaciário, o Covão d’Ametade, coberto de bétulas, vale a paragem e a fotografia.
Já em Manteigas, o roteiro cruza-se novamente com a história de João Tomás e Isabel Costa. Quando ampliaram a Casa das Penhas Douradas, em 2009, o casal alugou um pequeno espaço na antiga fábrica de lanifícios Império para explorar o burel – um tecido de lã resistente usado nas capas dos pastores – como material de decoração do hotel.
Na altura, a fábrica estava “num complicado processo de sobrevivência”, recorda João, e acabou por declarar insolvência. Foi então que Isabel e João viram uma oportunidade para salvar o negócio. Compraram a fábrica, voltaram a empregar os trabalhadores e deram ao burel uma nova vida, adaptando-o a um design contemporâneo e explorando novas aplicações, quer na arquitectura, na moda ou na decoração, como no seu primeiro hotel.
Hoje, a Burel Factory, que pode ser visitada por 5 euros por pessoa (a entrada é gratuita para hóspedes dos hotéis Burel), emprega 38 pessoas e mantém as máquinas e processos de fabrico artesanais. “Em todos estes projectos, nós não construímos nada de novo”, salienta João Tomás. “Nós procurámos recuperar o património, trabalhar com o que existia e estava a desaparecer.”
Foi assim também com a Casa de São Lourenço, o último hotel que inauguraram, em 2018, e que foi uma das primeiras Pousadas de Portugal, a Pousada de São Lourenço, criada em 1948, e, entretanto, posta à venda pelo grupo Pestana.
O hotel, virado para o Vale Glaciar e para Manteigas, a 1200 metros de altitude, manteve algumas peças da decoração original, incluindo mobiliário de Maria Keil. O grande trunfo, no entanto, é a vista, sempre presente quer nos quartos envidraçados (17 quartos e 4 suites), quer na piscina interior aquecida, que comunica com uma piscina exterior.
O tecto do restaurante do hotel, o Fatiga, aberto também a não-hóspedes, é o melhor exemplo de como a aplicação do burel na decoração pode ser impressionante, com centenas de estrelas feitas à mão na fábrica a 15 minutos de carro.
O chef Manuel Figueira, também responsável pelo menu do restaurante da Casa das Penhas Douradas, aposta numa cozinha mais regional, tentando recuperar ingredientes e “tradições que se foram perdendo entretanto”, diz. Por exemplo, o empadão de javali com salada de laranja, os boletos selvagens com queijo da serra ou as feijocas de manteiga, a acompanhar o lombo e bacalhau.
Em 2026, o grupo Burel planeia a abertura de mais um hotel, a Casa Jones, também nas Penhas Douradas. Localizado numa antiga propriedade do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) que albergou geólogos e botânicos ao longo dos anos, o hotel terá apenas seis quartos e quer manter essa ligação à área científica, com protocolos com universidades e investigadores. “Como a Casa Jones teve esse papel muito importante de divulgação da Serra da Estrela, queremos dar continuidade a essa missão”, conclui João Tomás.
Casa das Penhas Douradas. Penhas Douradas, Serra da Estrela. T. 275 981 045. Pack de uma noite com jantar e ofurô para duas pessoas a partir de 350 euros. Casadaspenhasdouradas.pt
Casa de São Lourenço. Estrada Nacional 232, km 49,3, Manteigas. T. 275 249 730. A partir de 255 euros/noite. casadesaolourenco.pt